TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO - TDAH
Na criança e no adulto
O quadro clínico da TDAH apresenta diferentes características de acordo com a faixa etária em que os sintomas se apresentam e varia ao longo do tempo. Portanto, o diagnóstico deve levar em conta a faixa etária do paciente no momento em que a avaliação é realizada.
O quadro clínico de TDAH já é conhecido da medicina desde o início do século XX. Ao longo dos anos recebeu outras denominações - tais como disritmia, síndrome da criança hiperativa, lesão ou disfunção cerebral mínima e transtorno hipercinético. A TDAH é um transtorno neurofisiológico, devido a alterações funcionais do sistema nervoso central (encéfalo), que tem início na infância, podendo perdurar na idade adulta ou até mesmo se apresentar apenas na idade adulta. Tem origem hereditária, é afetada por fatores sócio-ambientais e se caracteriza pela presença de três grupos básicos de sintomas: hiperatividade, impulsividade e deficiência de atenção.
TIPOS
Atualmente sabe-se que a hiperatividade não está sempre presente, podendo haver quatro tipos de TDAH: tipo hiperativo-impulsivo, tipo desatento (sem hiperatividade) e tipo combinado (hiperativo, impulsivo e desatento), tipo opositivo (TOD). A hiperatividade muitas vezes desaparece na idade adulta, mas o déficit de atenção e a impulsividade podem perdurar. A hiperatividade se caracteriza por um aumento da atividade motora, de modo que a criança se apresenta quase sempre inquieta, constantemente em movimento, tem dificuldade de permanecer sentada ou de ficar quieta em sala de aula. Quando a hiperatividade é muito intensa a criança tem até mesmo dificuldade para sentar à mesa ou permanecer muito tempo em uma mesma brincadeira, na frente da televisão ou mesmo lendo uma revista ou livro.
Na adolescência ou na idade adulta a hiperatividade pode se apresentar na forma de ansiedade, uma sensação de inquietação interna, tendência a fazer muitas coisas ao mesmo tempo e a se manter sempre ocupado e agitado mas, muitas vezes, não conseguindo levar adiante e completar as ações a que se propõe.
QUADRO CLÍNICO
A impulsividade aparece na forma de reações emocionais imediatas em que a pessoa parte direto para a ação ou expressão verbal sem se dar tempo para pensar ou refletir antes para avaliar a propriedade ou impropriedade da ação. Como o pensar sobre a ação ocorre depois, via de regra indivíduo se arrepende do que faz, o que é um fonte constante de estresse e de sofrimento desnecessário. Outra característica da impulsividade é a dificuldade de aguardar a vez, esperar em filas ou salas de espera. As crianças costumam se intrometer na conversa dos outros ou responder perguntas antes de deixar a outra pessoa completar o raciocínio. Essa impulsividade também se manifesta na forma de agir em diversas situações inclusive no trânsito, onde pode ser agravado pelo déficit de atenção, levando a passar no sinal fechado, não respeitar limites de velocidade e outras proibições.
A deficiência de atenção pode se apresentar de várias maneiras, tais como dificuldade de manter a concentração por tempo suficiente, o que leva a dificuldades no estudo e aprendizagem ou na realização de tarefas mais complexas. Costuma haver um grande número de falhas por lapsos de atenção, que induzem ao erro, inclusive em provas e exames em geral. Um adulto, por exemplo, pode ter dificuldade em ser aprovado em concursos, embora tenha domínio da matéria. Essa falha na capacidade de concentração leva com que a pessoa facilmente se desconcentre a partir de ruídos ou movimentos do ambiente. Pode se manifestar, também, na forma de pequenos esquecimentos, dificuldade em lembrar de datas e prazos de pagamentos e até mesmo esquecer o que devia fazer em pequenos lapsos de tempo como, por exemplo, se deslocar de uma peça para outra dentro de casa, na escola ou no local de trabalho.
O paciente de TDAH comumente tem muita dificuldade em administrar seu tempo, de programar suas atividades e se organizar de modo geral. Seguidamente esquece onde guardou ou deixou alguma coisa, esquece as chaves da casa ou do carro, os óculos ou o telefone celular, em lugares os mais diversos e muitas vezes sofre prejuízos em função disso.
Prevalência
A TDAH é um transtorno bastante freqüente na população geral, atinge entre 36 a 10% das crianças em idade escolar e cerca de 4% da população adulta. Em função dessa prevalência é difícil encontrar-se uma sala de aula que não tenha algumas crianças portadoras de TDAH. A diferença entre o sexo masculino e feminino é pequena embora haja uma tendência a se apresentar mais no sexo masculino.
Reflexos e Conseqüências
Os indivíduos portadores de TDAH, tanto adultos quanto crianças, apresentam um risco aumentado para uma série de situações:
Dificuldade de aprendizado e rendimento nos estudos.
Dificuldades de relacionamento interpessoal na escola, na família e no trabalho. No caso da criança pode levar a reprovações repetidas e várias mudanças de escola. No adulto pode levar a muitas mudanças de emprego ou demissões constantes.
Prejuízo para a auto-estima do paciente.
Propensão ao tabagismo, alcoolismo e ao abuso ou dependências de drogas. Os portadores são especialmente propensos ao tabagismo desenvolvendo quando fumantes uma grau de dependência muito alto à nicotina, uma vez que essa substância é capaz de atenuar parcialmente a deficiência de atenção. Isso representa um risco para a saúde e nunca uma indicação de que a uso do tabaco possa ser "bom" para quem tem TDAH.
Há uma propensão maior a acidentes devido tanto à desatenção quanto à impulsividade. As crianças tendem a se colocar em situações de risco, como subir em árvores, pular obstáculos e tentar fazer coisas impossíveis. Nos adultos há, em especial, um risco maior a se envolver em acidentes de trânsito ou com operação de máquinas.
Há também um risco aumentado de apresentar outras patologias mentais em comorbidade: como depressão, ansiedade, pânico, Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) e Transtorno Bipolar do Humor (TBH). Na criança pode haver associação com Transtornos de Aprendizado como a dislexia e Transtornos de Conduta, em especial o Transtorno Opositivo Desafiador (TOD) e Transtornos de Tiques (Tourette).
Diagnóstico
O diagnóstico é feito basicamente a partir das manifestações clínicas através da anamnese (história clínica) colhida pelo médico. Muitas vezes a criança vem encaminhada pelo serviço de orientação educacional da escola ou os próprios pais percebem que a criança é excessivamente inquieta, desobediente e agitada. Existem testes, elaborados em forma de escalas e questionários, para ajudar o médico a chegar ao diagnóstico, sendo que nenhum deles é capaz de chegar ao diagnóstico sem a avaliação de um profissional experiente. O Eletroencefalograma (EEG) tradicional não é capaz de detectar alterações nesses pacientes. No entanto, atualmente já está disponível em alguns centros um tipo específico de EEG, o Eletroencefalograma Quantitativo Dinâmico, capaz de confirmar e quantificar o Déficit de Atenção com bastante precisão e especificidade através de critério estabelecidos por Monastra (índice de Monastra).
Tratamento
O tratamento inclui uma combinação de medidas que começa com educação e orientação da criança, dos pais, do cônjuge, dos cuidadores (inclusive professores), incluindo o uso de medicamentos - quando indicado - psicoterapia e treinamento cognitivo e comportamental. No caso de crianças a colaboração da escola, dos professores e psicopedagogos é de fundamental importância. No caso do adulto é de grande importância a participação do cônjuge, desde o diagnóstico até à procura de atendimento e na continuidade do tratamento. Encontra-se em fase de estudo o tratamento através de uma tecnologia chamada neurofeedback, no qual paciente é conectado a sensores que medem suas freqüências de ondas cerebrais. Estes sinais são decodificados por um computador, que apresenta ao paciente sinais correspondentes às freqüências de onda predominantes – no início do tratamento, usualmente ondas lentas. Nos equipamentos mais modernos, os sinais cerebrais são apresentados sob a forma de um videogame.
Medicamentos
São utilizados medicamentos pertencentes à categoria dos psicoestimulantes e antidepressivos. A escolha do medicamento vai depender das características de cada paciente e, inclusive, irá depender da presença ou não de transtornos comórbidos. Em pacientes portadores de Transtorno Bipolar ou portadores de dependências químicas, por exemplo, o uso de estimulantes pode estar contra-indicado. Os medicamentos utilizados são bastante seguros podendo ser utilizados sem maiores problemas na maioria dos pacientes, embora nenhum medicamento esteja livre de sintomas colaterais indesejados, cuja presença será avaliada constantemente e levada em consideração pelo médico assistente, tanto na escolha do tipo de medicamento quanto nas dosagens e forma de apresentação. Atualmente existem medicamentos em apresentações do tipo liberação controlada capaz de diminuir a incidência de alguns efeitos colaterais.