SE ARREPENDIMENTO MATASSE...

O arrependimento é útil ou danoso à nossa saúde mental?

Rubens Mazzini Psiquiatra

9/3/20235 min read

SE ARREPENDIMENTO MATASSE...

"Se Arrependimento Matasse" já foi tema de uma música de Jerry Adriani e de um filme cearense do mesmo nome que estreou em 2019, além de inúmeras obras literárias, blogs, artigos e estudos científicos.

Certamente muitas vezes na vida esse pensamento clássico nos assalta. A verdade é que o arrependimento é um fato da vida que acontece a todos nós em alguma medida, pois é impossível viver, aprender e evoluir sem cometer erros.

Não acredito nas pessoas que dizem coisas como: "Não me arrependo de nada" ou "Se pudesse faria tudo igual de novo". Que me desculpem, aqueles que acreditam nisso mas, essa pessoa só pode ser uma dessas coisas: um santo, um mentiroso, um negacionista ou um psicopata. Ser capaz de se arrepender do jeito certo, de um jeito que pode ser compreendido e que pode levar à reparação e à correção, é na verdade uma condição necessária à manutenção da saúde mental. Quem não é capaz de se arrepender pode acabar em uma posição desastrosa, na qual contiua cometendo os mesmos erros autodestrutivos ou que causam danos aos outros sem ter consicência deles e sem, portanto, contemplar a possiblidade de refletir sobre eles, de se desculpar e de se corrigir. A incapacidade de se arrepender é um apanágio dos psicopatas, se eles fossem capazes de se arrepender talvez não cometessem crimes, pelo menos não voluntariamente.

Não é o arrependimento em si que "mata", mas sim nossa reação e modo de lidar com esse sentimento que pode nos levar ao sofrimento, adoecimento e até mesmo à morte. Em certas condições o arrependimento pode se tornar um sentimento tóxico, consumidor de energias e destruidor da auto-estima, que age como veneno que mata a vítima aos poucos e com muito sofrimento. Uma resposta excessiva ou inadequada ao arrependimento pode, por exemplo, levar a pessoa a sentir que está sempre errada ou que é uma má pessoa.

A maneira errada de lidar com o arrependimento redunda em culpa e autoflagelo, o chamado remorso, ou, como melhor expressa a palavra em espanhol: "remordimiento". Quando isso acontece a pessoa é entra em um círculo vicioso que é altamente nocivo para a saúde mental, levando a um sofrimento emocional constante ou recorrente que contribui para causar transtornos de ansiedade e depressão, além de destruir a auto-estima e o sentimento de merecimento, que leva a pessoa a não acreditar nas suas possibilidades e no seu direito de ser feliz. O círculo vicioso do arrependimento patológico é exaustivo, suga toda a alegria de viver e faz com que a pessoa fique presa ao passado, paralisada, sem ser capaz de usufruir o presente e incapaz de vislumbrar e se mover em direção ao futuro.

Felizmente, arrependimento não é algo sempre ruim, pelo contrário, pode ser algo que nos motiva a agir para resolver ou evitar novos problemas na vida. Muitas vezes é o arrependimento que nos faz tomar um novo rumo na vida e, a partir daí passar a tomar as decisões e atitudes certas. De modo que, em vez de ser apenas causador de dor e sofrimento o arrependimento pode se tornar um caminho para uma melhor maneira de viver, em relação a si mesmo e aos outros. A maneira de reagir ao arrepedimento pode ser a diferença entre ficar paralisado por sentimentos negativos ou se colocar em ação para ir adiante e tomar melhores decisões em direção ao futuro.

A atitude saudável é ver o arrependimento como uma oportunidade de fazer as coisas de um jeito diferente no futuro em vez de ser uma condenação que o leva a desistir de continuar vivendo ou de tentar ser feliz e realizar suas possibilidades. Quando fazemos algo que causa dano a algo ou a alguém a melhor atitude em vez de se ficar autoflagelando é fazer algo para reparar o dano dentro do possível. O arrependimento está sempre relacionado a nossas más escolhas. Não nos sentimos arrependidos pelas coisas que nos acontecem, mas sim pelas coisas que fazemos acontecer ou deixamos de fazer acontecer, tanto em relação à nossa própria vida como à dos outros. Para aprendermos com a experiência precisamos estar abertos à possibilidade de cometer erros e se arrepender por eles. É a habilidade de aceitar a si mesmo, de reconhecer que estamos imersos em um contexto maior a nós mesmos e compreender que tomamos decisões baseados em valores e informações que estavam disponíveis naquele momento que nos conduz do remorso para o auto-conhecimento.

Uma pesquisa realizada através das redes sociais revelou algumas das coisas mais comuns das quais as pessoas se arrependem, que foram classificadas em 6 categorias, na ordem de maior para menor ocorrência:

  1. Não ter feito alguma coisa que julga que deveria ter feito em relação a alguém que já morreu.

  2. Não ter comunicado antes o fato de ter sofrido algum tipo de abuso sexual.

  3. Não ter estudado mais, deixar de ter feito um curso ou treinamento que queria.

  4. Não ter feito a escolha profissional certa. Esse arrependimento está frequentemente associado ao medo: medo de fazer a escolha errada, medo de não ser capaz ou medo do próprio arrependimento por fazer a escolha errada. Isso inclui também o arrependimento de não ter aceitado determinado emprego ou posição ou de não ter aproveitado uma oportunidade de trabalho.

  5. Não ter feito uma declaração de amor por medo da rejeição.

Ter deixado de fazer muitas coisas por se deixar dominar pelo medo, incerteza ou insegurança, manifestado em expressões como: "Me arrependo de ter medo o tempo todo"; "Me arrependo de ter sido muito ansioso e não ter sido mais assertivo"; "Me arrependo de não ter saído antes (de alguma situação) e ter desperdiçado anos me preocupando sobre isso"; "Me arrependo de ter me preocupado demais em relação a quase tudo"; "Me arrependo de ter tido medo demais de viver".

Em resumo: O arrependimento é algo que tem o potencial de destruir ou melhorar a sua vida de modo duradouro ou permanente. Mas, enquanto há vida há chance de reverter as consequência do excesso de arrependimento. Ou, em outras palavras: Há vida após o arrependimento. Pense nisso e seja mais feliz!

E você? Qual o seu maior arrependimento? Caso sinta-se à vontade, acesse a página do artigo no Facebook e deixe sua opinião nos comentários e, se possível, descreva como aprendeu a lidar com ele e como se posiciona em relação a ele no presente e em relação ao futuro.

Referências:

https://www.theguardian.com/lifeandstyle/2017/oct/31/biggest-regret-devastatingly-honest-twitter-bad-choices

https://www.psychologytoday.com/us/blog/understand-other-people/201704/letting-go-regrets

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2394712/

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2394712/pdf/nihms44389.pdf

https://theblazingcenter.com/2016/09/regret-will-kill-you-unless-you-kill-it-with-promises.html

Como lidar com o arrependimento:

https://medium.com/the-mission/20-ways-to-deal-with-the-regrets-that-will-kill-you-a1c8ede91b66

https://www.vivianebattistella.com.br/se-arrependimento-matasse/

https://amenteemaravilhosa.com.br/se-arrependimento-matasse/